quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Meu Jogo

Eu queria, ainda, um resto do que vem.

Vender o nada que me cabe da sombra que me cobre.

Ter a visão distorcida por uma bolha de sabão.

Comprar a bolha por apenas um vintém.

Das folhas da árvore me vestir e me sentir nobre.

Ter meu mundinho me protegendo de qualquer não.


Mais ainda, eu queria ter a tua companhia.

Tê-lo preso, por tua vontade, ao meu lado.

Aperfeiçoar, o que é perfeito, tua nobreza.

Enfiar-te em mais uma bolha que surgiria.

Vigiar, como um tesouro, teu olhar apaixonado.

Trancar, a sete chaves, no meu peito, tua pureza.


Queria, em fim, caminhar por sobre a mesa.

Admirar este meu encantador jogo de tabuleiro.

Jogar o pequeno dado de única face.

Ganhar de minha rival a realeza.

Descobrir que não tem preço este meu reino,

E que minha adversária era meu insólito disfarce.


[Aline Sampin


- Ilustração: Aline Sampin