terça-feira, 29 de novembro de 2011

Incansáveis



O tilintar de copos.
O cheiro envolvente
De um delicioso jantar.
Um jogo de dois corpos.
Gestos nada inocentes.
O amor presente e sublime.
Temperando com primor
O sabor de uma noite
Que até a eternidade se repetirá.

[Aline Sampin

[foto por Aline Sampin (câmera Pinhole do aplicativo retrô câmera do dispositivo móvel)

Soneto de laços falhos

Quando penso nos erros dos outros
Repenso os nossos enganos
Que são muitos e, no entanto,
Nossos acertos não foram poucos.

Traímos todos os laços,
A cada lágrima que rola contra
A distinção dos nossos traços,
Que ao tratarmos, não demos conta.

Soma ao teu dia
Minha marra mutável.
Sou tua companheira.

Testemunha minha euforia
Ao te ter tão amável,
Ainda que não queira.

[Aline Sampin

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Manifesto

Onde havia amor, já não se pode haver.
Mas do que nunca, de hoje em diante
Nessa terra, nessa vida, ninguém pode viver
Dos verbos que sucedem aquele que é operante.
Ninguém aqui fornica, ninguém pode mais foder.
Nem como gente amiga, nem como gente amante.

Cortem a carne do que peca.
Mas não permitam ver-lhe o sangue,
Que é o sumo do doloso.
É o que endurece toda neca.
E ainda que ele sangre.
Não lhe deixem ter o gozo.

Digam adeus à falha, ao erro, ao ato.
Não ouvi, ainda, palavra sequer.
Quem será o primeiro a ser de fato
O carnífice da iniquidade da mulher?
Saiba este, renegar apetitoso prato.
Em tal iguaria não meterá mais a colher.

Falemos de falência ao falo!
Gritemos guilhotina ao grelo!
Falência ao falo!
Guilhotina ao grelo!
Ao falo!
Ao grelo!
Falo grelo!

[Aline Sampin

domingo, 9 de outubro de 2011

Versos que dizem a vida de Maria e seus adversos

Sinceridade no olhar que sorria
Se ria toda de dança, de graça.
Que brinquedo contenta Maria?
E nem birra, nem pirraça.
Chega perto e enverga alegria.

É manhã da noite pro dia.
Maria canta qual passarinho.
Que barulho norteia Maria?
É murmuro de cantinho.
Mamãe chorava enquanto lia.

Lágrima de mãe dói qual tortura.
- Já sou crescida, posso aguentar.
- Papai se foi lá pras alturas.
- Mas mandou carta e vai voltar.
Mas não demora em sua candura.

Maria de raiva desespera:
Volta do pai é que nem nunca.
Desacredita a sua espera.
Seu coração vira espelunca.
Nada será mais como era.

Logo vê que o pai morreu.
Criança crê que tudo volta.
Mas vê no chico, que cresceu.
Chegou à idade de revolta.
E sua esperança feneceu.

Cadê carta, está no porão.
E no papel o que é verdade.
Letra não é do pai, mas do patrão.
Veio informar a calamidade.
Que pai morreu numa explosão.

Mina, mineral dá dinheiro que só.
Patrão sabe que o luto tem o seu valor.
Compra o luto pobre com um futuro melhor,
Inda cisma que seu ato foi um grande favor.
Eita vida, que de assim não dá pra ser pior.

- Pra ser gente, tu estás nesse mundo.
- Escuto tua fala e antes disso, obedeço.
Não foi nesse, nem no outro segundo
Que a usança da moça virou do avesso.
Levaram dois anos num penar profundo.

Menina Maria debutou na estrada.
Foi para cidade a todo custo ser gente.
A revelia brotou cada passada.
Na noite urbana, assim mesmo de repente
Foi ter com a vida, essa amiga desgraçada.

[Aline Sampin

quarta-feira, 9 de março de 2011

Por que não?

Porque já foi embora.
Porque ainda é cedo.
Porque me recordo
Que não te conheço
Eu sempre demoro
Ou quase escureço.
Na vergonha da aurora
Tem meio tropeço.
Porque é meio-dia.
Pela minha frescura.
Por tua rebeldia.
Porque é sem cura
Essa minha agonia
De ser sempre pura.
Porque és anônimo.
Porque sou sem você.
Porque és antagônico
Ou por não merecer.
Nem hoje, nem ontem.
Mas talvez amanhã.
Só me diga seu nome.
Pra saber quem consome
Minha dúvida vã.

[Aline Sampin

domingo, 6 de março de 2011

Só por estar, e só

Não tenho nada pra me distrair
Não quero nada
Não me tenho
Se quer.

Estou em repouso aqui e ali
Minha pele parda
Meu empenho
Mulher

Solta no acaso que se repete
No olhar escasso
Corda bamba
Amor.

Por tua conduta que me repele
Não sou teu caso
Coisa branda
Favor.

Colido com minhas vontades
Toda vez que caio
Num desmaio
Perco.

Já são poucas as vaidades
Nada deixou, lacaio
Não te traio
Esqueço.

[Aline Sampin