Onde havia amor, já não se pode haver.
Mas do que nunca, de hoje em diante
Nessa terra, nessa vida, ninguém pode viver
Dos verbos que sucedem aquele que é operante.
Ninguém aqui fornica, ninguém pode mais foder.
Nem como gente amiga, nem como gente amante.
Cortem a carne do que peca.
Mas não permitam ver-lhe o sangue,
Que é o sumo do doloso.
É o que endurece toda neca.
E ainda que ele sangre.
Não lhe deixem ter o gozo.
Digam adeus à falha, ao erro, ao ato.
Não ouvi, ainda, palavra sequer.
Quem será o primeiro a ser de fato
O carnífice da iniquidade da mulher?
Saiba este, renegar apetitoso prato.
Em tal iguaria não meterá mais a colher.
Falemos de falência ao falo!
Gritemos guilhotina ao grelo!
Falência ao falo!
Guilhotina ao grelo!
Ao falo!
Ao grelo!
Falo grelo!
[Aline Sampin
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
domingo, 9 de outubro de 2011
Versos que dizem a vida de Maria e seus adversos
Sinceridade no olhar que sorria
Se ria toda de dança, de graça.
Que brinquedo contenta Maria?
E nem birra, nem pirraça.
Chega perto e enverga alegria.
É manhã da noite pro dia.
Maria canta qual passarinho.
Que barulho norteia Maria?
É murmuro de cantinho.
Mamãe chorava enquanto lia.
Lágrima de mãe dói qual tortura.
- Já sou crescida, posso aguentar.
- Papai se foi lá pras alturas.
- Mas mandou carta e vai voltar.
Mas não demora em sua candura.
Maria de raiva desespera:
Volta do pai é que nem nunca.
Desacredita a sua espera.
Seu coração vira espelunca.
Nada será mais como era.
Logo vê que o pai morreu.
Criança crê que tudo volta.
Mas vê no chico, que cresceu.
Chegou à idade de revolta.
E sua esperança feneceu.
Cadê carta, está no porão.
E no papel o que é verdade.
Letra não é do pai, mas do patrão.
Veio informar a calamidade.
Que pai morreu numa explosão.
Mina, mineral dá dinheiro que só.
Patrão sabe que o luto tem o seu valor.
Compra o luto pobre com um futuro melhor,
Inda cisma que seu ato foi um grande favor.
Eita vida, que de assim não dá pra ser pior.
- Pra ser gente, tu estás nesse mundo.
- Escuto tua fala e antes disso, obedeço.
Não foi nesse, nem no outro segundo
Que a usança da moça virou do avesso.
Levaram dois anos num penar profundo.
Menina Maria debutou na estrada.
Foi para cidade a todo custo ser gente.
A revelia brotou cada passada.
Na noite urbana, assim mesmo de repente
Foi ter com a vida, essa amiga desgraçada.
[Aline Sampin
Se ria toda de dança, de graça.
Que brinquedo contenta Maria?
E nem birra, nem pirraça.
Chega perto e enverga alegria.
É manhã da noite pro dia.
Maria canta qual passarinho.
Que barulho norteia Maria?
É murmuro de cantinho.
Mamãe chorava enquanto lia.
Lágrima de mãe dói qual tortura.
- Já sou crescida, posso aguentar.
- Papai se foi lá pras alturas.
- Mas mandou carta e vai voltar.
Mas não demora em sua candura.
Maria de raiva desespera:
Volta do pai é que nem nunca.
Desacredita a sua espera.
Seu coração vira espelunca.
Nada será mais como era.
Logo vê que o pai morreu.
Criança crê que tudo volta.
Mas vê no chico, que cresceu.
Chegou à idade de revolta.
E sua esperança feneceu.
Cadê carta, está no porão.
E no papel o que é verdade.
Letra não é do pai, mas do patrão.
Veio informar a calamidade.
Que pai morreu numa explosão.
Mina, mineral dá dinheiro que só.
Patrão sabe que o luto tem o seu valor.
Compra o luto pobre com um futuro melhor,
Inda cisma que seu ato foi um grande favor.
Eita vida, que de assim não dá pra ser pior.
- Pra ser gente, tu estás nesse mundo.
- Escuto tua fala e antes disso, obedeço.
Não foi nesse, nem no outro segundo
Que a usança da moça virou do avesso.
Levaram dois anos num penar profundo.
Menina Maria debutou na estrada.
Foi para cidade a todo custo ser gente.
A revelia brotou cada passada.
Na noite urbana, assim mesmo de repente
Foi ter com a vida, essa amiga desgraçada.
[Aline Sampin
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