domingo, 3 de janeiro de 2010

Preencha de sonhos



Sou uma barragem contendo a correnteza.
A minha volta, secura da terra que se quer encharcar,
De tanta sede que sente da minha inútil estranheza.
Mas a represa tudo ampara. Esta represa, meu olhar.

Meu olhar que nada vê, que mede, desvia, se mexe,
Esconde vontade, dissimula desejos e constrange um futuro.
A correnteza, meu bem, um devaneio, se escabeche,
Cá dentro, cá comigo, com o cálice que amarguro.

Um cálice até a borda de sonhos, tonturas, caprichos,
Silêncio e sussurros que não pretendo libar.
Penso que se não me mexo, nada sai do lugar.

Paraliso e aguardo quem complete meus rabiscos.
Os desenhos mal feitos, que eu não quero enxergar.
Por favor, preencha-me de sonhos antes de me amar.

[Aline Sampin

- Foto: Leli

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