domingo, 22 de junho de 2014

(SEM TÍTULO)



Aquela mesa nunca foi tão longa.
Sabiam-se ligados por um laço incompreensível e severo.
Uma paixão platônica, dessas que se sente pelos gostos bons da vida.

Encontram-se
E riem-se

Da memória furtiva de que são cúmplices.
Agora, aquela mesa está muito longa.
E nessa distância margeada por vigias enganados

Olham-se
E riem-se

Da viva infância que lhes acometem o peito e dispara o corpo estagnado até ali.
De uma ponta à outra daquela longa mesa,
Seus olhares aperfeiçoam os nós dos laços incompreendidos.

Perdem-se
E riem-se

Da condição ridícula, infantil e imoral, em que se encontram – adultos que são.
Mas aquela mesa longa...
E o tempo esgarçado e torturante insiste, ignorante, em mantê-los afastados.

Anseiam-se
E riem-se

Do iminente fim da briga de gladiadores que participam desatentamente.
Só interessa o lado oposto da longa mesa.
O fim que chega faz, enfim, começar o dia.

Abraçam-se
E riem-se

Satisfeitos pelo toque de pele, cheiro, respiração, sussurros,
Não mais separados pela inútil longa mesa.
E o insólito instante a sós os embriaga e tece laços de corpos.

Amam-se
E riem-se.


[Aline Sampin

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo!!

Anônimo disse...

Lindo!!